quarta-feira, 15 de maio de 2013

Vermelho de raiva

Estádio Nacional ou Estádio Mané Garrincha, a confusão no nome será eterna (ou pelo menos enquanto a FIFA estiver por aqui), mas o fato é que o estádio de Brasília, construído para a Copa das Confederações e para a Copa do Mundo ficou lindo. Na minha modesta opinião, um dos mais bonitos do mundo, não somente pela arquitetura, mas principalmente por sua localização. Duvido que em outra cidade tenha um estádio tão bem localizado, rodeado de pontos turísticos como o de Brasília. Torre de TV, Autódromo, Catedral, Esplanada dos Ministérios, Congresso Nacional, Memorial JK... são todos possíveis (se bem disposto) de serem visitados a pé.

Pois bem, ficou lindo e, embora eu pudesse discorrer linhas e mais linhas sobre os rios de dinheiro público que foram gastos além do previsto, me aterei a outro fato no mínimo intrigante: as cadeiras vermelhas do estádio.

Antes de começar esclareço que a minha crítica a cor escolhida para as cadeiras nada tem a ver com o meu time de coração e seu tradicional rival (se bem que como o próprio dicionário nos informa, vermelho vem de vermículo, que por sua vez significa pequeno verme e disso com certeza nada de bom pode sair). Enfim, pelo pouco que conheço da história de Brasília, não encontrei motivo relevante para tal escolha. Teriam se baseado nas cores da bandeira do Brasil? Obviamente que não. Na do Distrito Federal? Muito menos.
Maquetes de como deveriam ter ficado as cadeiras e como elas realmente ficaram no novo estádio de Brasília.
Times de Brasília
Parti então para os times de futebol da capital. Brasília nunca teve um time forte o suficiente para figurar durante anos na primeira divisão, por exemplo. No início dos anos 70, o CEUB teve seus dias de glórias. No final da mesma década surgia o Brasília que... OPA! Vestia vermelho. Seria essa a referência das cadeiras vermelhas do estádio da Copa? Mas continuemos a pesquisa, na década de 90 foi a vez do Gama fazer aparições entre os grandes do futebol brasileiro e no início dos anos 2000, o Brasiliense. Apesar de ser pouco conhecido, o Brasília, justo o de vermelho, é o time da capital que mais vezes disputou a Série A do Campeonato Brasileiro, 8 no total. Começo a desconfiar que realmente encontrei a explicação, mesmo achando um tanto quanto absurda, afinal quando se fala em Brasília, a referência principal é a de ser a capital do Brasil, um país conhecidamente verde e amarelo. Ou seja, cores óbvias, até por que se era para homenagear algum time daqui, atualmente os dois com maior destaque são Gama e Brasiliense. Suas cores? Um verde e outro amarelo. 

Segui desconfiado, incrédulo em tal homenagem ao "gigante" Brasília da longínqua década de 70. Seria a escolha do vermelho motivada então pela famosa terra avermelhada da capital federal? Quem já esteve por aqui, especialmente em época de seca, conhece muito bem a cor da poeira que toma conta da capital todo santo ano. Porém, seria ainda mais estranha essa homenagem, mas entre um time de 1970 e a poeira, aposto que a segunda é mais conhecida.

Lula e Agnelo Queiroz admiram a mais nova bandeira partidária.
Decepção
Ok, em um ato de desespero resolvi recorrer ao Google: "por que vermelho no estádio de Brasília" TCHANANANNN! Achei a tão procurada resposta e confesso que ao ler logo de cara, na primeira matéria, a decepção foi enorme. Imediatamente comecei a achar o "super time" da década de 70 uma ótima homenagem, a cor da terra também começou a fazer sentido, sei lá, até a menstruação da presidenta seria mais sensata... Mas não, a escolha é realmente partidária política. Segundo matéria da revista Veja, a cor rubra foi escolhida por ser a cor do PT, partido do atual governador do DF, Agnelo Queiroz, e da presidenta Dilma. Lamentável! O que será feito se nas próximas eleições o PSDB ganhar? Serão retiradas as malditas cadeiras e colocadas outras novas na cor azul?

O interessante é que no projeto original as cadeiras eram nas cores da bandeira brasileira. Mas como a minha falta do que fazer era grande, resolvi aprofundar a pesquisa e saber a versão oficial do Governo do Distrito Federal sobre a cor escolhida. Acabei descobrindo uma explicação pra lá de estapafúrdia. Segundo eles, a escolha foi baseada em outros estádios do mundo e em critérios técnicos, pois "como existe uma perda natural de assentos a cada evento, a cor vermelha facilita o processo de substituição de cadeiras quando necessário", e que "A cor gera a ideia de uniformidade e lotação". Sério? É isso mesmo? Se era essa a preocupação, ao invés de 70 mil cadeiras vermelhas, que comprassem 70 mil bonecas infláveis, a sensação de lotação seria muito maior.

Pronto, consegui a minha resposta e não foi nada glamurosa como prestar uma homenagem ao país, a capital ou aos times que nela habitam. A "homenagem" foi mesmo para a pilantragem política, talvez uma das maiores características da cidade, que acaba sofrendo com os péssimos representantes que aqui trabalham, sejam eles de partidos vermelhos, azuis, verdes ou amarelos.

"Journalism is printing what someone else does not want printed, everything else is public relations"  

Na vitrola:

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