domingo, 9 de setembro de 2012

Brasil, um país deficiente

Se você, ao ler o título, imaginou que encontraria um texto depreciando o Brasil, está enganado, pelo menos em parte. Afinal, nas Paralimpíadas de Londres o Brasil teve a melhor participação da história, terminando em 7º no quadro de medalhas, a frente de potências como Alemanha, Itália e Espanha por exemplo, provando que somos sim um país deficiente e com muito orgulho.

A comparação entre a delegação brasileira olímpica e paralímpica é inevitável e pertinente na minha opinião. Para não me ater somente aos jogos de 2012, resolvi pesquisar alguns dados dos jogos também de 2004 em Atenas e 2008, em Pequim. Analisando ano a ano, em quase todos eles (exceção as medalhas de bronze em 2012) a delegação paralímpica superou a olímpica, seja no número total de medalhas ou somente nas de ouro, prata ou bronze. Na soma dos anos, a diferença fica ainda mais gritante a favor dos deficientes: 51 a 11 em medalhas de ouro, 40 a 12 nas de prata e 32 a 19 nas de bronze.

Com tais dados, você pode supor que o Brasil envia mais atletas paralímpicos do que olímpicos ou que o número de modalidades disputadas seja maior nas paralimpíadas, certo? Errado, e nas duas suposições. Em nenhum ano o Brasil teve mais atletas ou disputou mais modalidades com os atletas deficientes. Na soma dos anos, o Brasil já enviou 781 atletas para 78 modalidades olímpicas contra 468 atletas para 48 modalidades paralímpicas.

Mas então, qual a resposta para tamanha diferença entre as conquistas das delegações? Eu até havia preparado uma justificativa com esperança de que enviássemos sempre mais atletas paralímpicos, tese que acabei de derrubar. Sendo assim, a resposta óbvia que me vem a cabeça é justamente a eficiência, a competência dos atletas. Até porque o investimento (ou a falta dele) é muito maior para os atletas "normais" do que aos paralímpicos.

China, Estados Unidos e Grã-Bretanha, assim como nas olimpíadas, também são potências nas paralimpíadas. O Brasil por sua vez nunca esteve abaixo da 14º colocação no quadro de medalhas. Ficando em 9º em 2008 e 7º em 2012, nossa melhor colocação na história. Apenas para lembrar, esse ano o Brasil ficou em 22º lugar nas olimpíadas (com 17 medalhas no total, sendo que nas paralimpíadas conquistamos, só de ouro, 21).

Devemos comemorar e muito a eficiência dos nossos deficientes, mas vale o alerta para um dado que já publiquei diversas vezes. Nos EUA, em média 300 pessoas ficam deficientes por ano. No Brasil também são 300, mas por mês. O que quero dizer com isso? Simples. Lá, mesmo com menor número de deficientes, eles dão total apoio a seus atletas, o que os tornam uma potência. Aqui, se nem os atletas olímpicos possuem apoio, imaginem os paralímpicos.

Considero sim o Brasil uma potência nas paralimpíadas, mas infelizmente não devido ao investimento do governo ou da iniciativa privada e sim pelo alto número de deficientes que temos no país. O dia a dia de um deficiente brasileiro é tão complicado, em todos os quesitos, que o esporte, mesmo sem apoio, muitas vezes acaba servindo como uma válvula de escape. Enfrentar a falta de acessibilidade, infelizmente, acaba sendo um bom e duro treino. Afinal, é muito mais difícil ser deficiente no Brasil que em países mais desenvolvidos e com o povo mais educado.


"A distância entre o sonho e a realidade chama-se disciplina"
Bernardinho

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