segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Test drive em concurso público

Opa, hoje o assunto não será a minha habilitação e nem a fisioterapia. Ambas continuam indo muito bem por sinal. O que gostaria de escrever é sobre os concursos públicos, lógico, voltado para os deficientes, ou para aqueles que por algum motivo precisam de auxílio, de uma ajuda especial.

Pois bem, como estou pensando em fazer algumas provas em 2012, resolvi me inscrever e fazer um teste para ter uma idéia e ver como funciona o tal atendimento diferenciado para pessoas com deficiência. Alguns podem estar se perguntando o porque de eu precisar de auxílio, sem ser a acessibilidade do local das provas. No meu caso, é pelo seguinte: Sou tetraplégico e além dos movimentos das pernas, perdi partes dos movimentos dos membros superiores. Alguns, na verdade a maioria, eu já recuperei, mas as mãos, ainda não. Eu consigo escrever? Até consigo, principalmente se forem palavras e frases curtas, assinar meu nome, essas coisas mais simples. Mas escrever uma redação por exemplo ou preencher um gabarito de prova, sem rasurar aquelas malditas "bolinhas", fica complicado, por isso necessitei o auxílio ao me inscrever no concurso. 

A primeira coisa que chequei, foi a acessibilidade do local. Neste quesito, nada a reclamar. Fiz a prova na escola Leonardo Da Vinci, na 914 norte. O lugar é cheio de rampas (com a inclinação correta), portas das salas largas e com um piso sem irregularidades, o que ajuda bastante na locomoção com uma cadeira de rodas. Só não diria ser perfeito, por ter ouvido outros cadeirantes reclamarem que o elevador não estava funcionando (Eu não percebi, pois subi pelas rampas, mas deveria funcionar. A rampa, apesar de ser ótima, é bastante comprida, o que pode cansar alguém que tenha que empurrar a própria cadeira).

Chegando na sala, a primeira surpresa. Fiz a prova sozinho (somente eu e o fiscal), aliás, pelo que vi, cada candidato que solicitou auxílio ficou em uma sala individual, no máximo, haviam duas pessoas na mesma sala. Ótimo para manter a concentração, ainda mais aqui no Brasil, onde a maioria das pessoas, quando vê um deficiente, fica encarando como se fosse um extraterrestre. As mesas, acredito por ser uma sala de crianças, eram baixas, o que dificultou um pouco no posicionamento para escrever. Meu pescoço, por exemplo, começou a doer ainda na primeira hora, mas nada que me atrapalhasse. 

Quanto ao fiscal que estava comigo, também nenhuma reclamação. Foi atencioso, explicou todos os procedimentos e se colocou a disposição para me auxiliar no que fosse necessário, como arrumar a posição da cadeira, das adaptações, buscar água... (Era a obrigação dele? Sim, mas muita gente nem isso faz, por este motivo, vale o elogio).

Fiz a prova objetiva (Da EBC, feita pelo CESPE) com tranquilidade. Ao acabar chamei o fiscal, que pegou a folha de respostas, e fui falando as questões para ele assinalar (Aí se justifica o porque da sala individual). Mas eis que surge o grande problema, a redação. Por não conseguir escrever, solicitei auxílio. O problema é que eu teria que ditar a redação e um fiscal escreve-lá. Não posso dizer que não sabia, pois no edital já informava o método, mas mesmo assim, me surpreendi com a dificuldade de se fazer uma redação desta maneira. Tente você fazer desse jeito, sem rascunho e ir ditando para outra pessoa escrever. É horrível, quando pensava o que colocar no segundo parágrafo, já havia esquecido do primeiro. Lembrava a idéia, mas não as palavras exatas.

Outro problema foi com a fiscal que escreveu a minha redação. Ela visivelmente estava nervosa com a situação, a mão dela suava. O CESPE deveria ter gente treinada para isso (se é que ela não era). Apesar de tudo, e das dificuldades para estabelecer uma conexão entre as ideias do texto, começei a ditar, mas logo de cara vi que essa situação não daria certo. Ao ditar algumas palavras, percebi que elas eram escritas de forma errada. Algo como "publica", sem acento, "espectativas", entre outras. Ok, não condeno a pessoa que escreveu, isso acontece, existem palavras que temos mais dificuldades e por mais que se estude, volta e meia o erro aparece, é normal. Mas não pode (não deveria) ser assim em um concurso público. 

O que deveria ser feito é que o fiscal que fosse escrever, informasse ao candidato sobre a obrigação dele soletrar as palavras, acentos e cada vírgula a ser escrita. Quando percebi a quantidade de erros cometidos, desisti, fiz o resto do texto apenas para "cumprir tabela". Novamente, não culpo a fiscal, isso acontece. Culpo a organização do concurso, pois fazendo uma redação desta maneira, ditada, o candidato fica em desvantagem com os demais concorrentes que podem escrever normalmente.

A solução? Simples. Permitam que se faça a redação em um computador. Eu digito normalmente, rápido e sem nenhum problema. Alguém diria: "Mas no computador você pode "colar", além do que, o editor de texto não ficaria corrigindo seus erros automaticamente?" Não, não poderei colar, basta me colocarem em um computador bloqueado, no qual só funcione o word ou o bloco de notas... Quanto à autocorreção, basta desativa-lá. Simples não? Deveria, mas como por aqui, o bom é sempre o mais difícil, não ocorre desta maneira.

O que quero com tudo isso? Alertar, divulgar o problema e tentar melhorar. Seja para mim ou para quem for precisar futuramente. Eu vou sim comprar esta briga, ainda não sei se usar computador para fazer a redação já é possível, nem se existe tal possibilidade. Caso não exista (atencão amigos advogados), farei de tudo para que ela passe a existir (Afinal, convenhamos, quem é que ainda faz redações, ofícios ou qualquer tipo de texto a mão? Tudo é feito via computador). Sem essa possibilidade, fica desrespeitado um dos princípios básicos e mais importantes do nossa constituição: A igualdade de direito para todos.

"Don't quit because something went wrong. Quit because you tried your hardest and nothing made it better".

Um comentário:

Anônimo disse...

Computador para todos é inviável, devido ao alto custo que isso representa. Mas, para aqueles que possuem alguma deficiência, acho a idéia excelente!