terça-feira, 18 de junho de 2013

O gigante saiu do berço esplêndido

O dia 15 de junho era pra ser um dia de festa, e foi, mas não só de festa. Pelos protestos ao longo da semana em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre... era previsível que aqui, na capital do país não seria diferente, ainda mais com a abertura da Copa das Confederações, oportunidade perfeita e com grande parte dos olhos do mundo voltados para Brasília.

Desde o final da partida, tenho lido e escutado a opinião de diversas pessoas sobre as manifestações pré-jogo e os gastos exacerbados nos estádios. Não tiro a razão de quase nenhuma dessas opiniões, por mais radicais que elas sejam. É inadimissível ter dinheiro para fazer estádio e não para a educação, saúde e moradias, por exemplo. Lógico que fiquei feliz por ter ido a um estádio moderno, mas lamento pela forma como ele foi construído.

O fato é que, mesmo presente ao jogo, não significa que fui/sou a favor dos gastos exagerados, ainda mais em um país onde falta tanta coisa. Sou sim a favor da Copa no Brasil, mas absolutamente contra o uso de dinheiro público. Será que é tão difícil de se fazer isso? Será que os países que sediaram anteriormente o evento tiveram os mesmos e absurdos gastos? Claro que não! Segundo pesquisas, o Brasil já gastou 30 bilhões para fazer a Copa de 2014, quantia superior a soma das últimas três copas do mundo (África do Sul, Alemanha e Japão/Coreia), onde foram gastos 25 bilhões.

Acho justíssimo o protesto contra a Copa no Brasil, mas também acho que eles deveriam ter acontecido antes, muito antes, ainda quando o Brasil resolveu ser candidato. Afinal, nós como bons brasileiros já deveríamos saber, desde que o pífio Joseph Blatter (o senhor do Fair Play) abriu o envelope anunciado que a Copa seria aqui, que os gastos seriam excessivos e que os corruptos fariam uma verdadeira festa, muito maior do que a dos torcedores. Eu até acho que tais protestos ocorreram na época (a escolha do Brasil foi em outubro de 2007), mas não com a mesma intensidade de agora. Tenho certeza que a FIFA teria pensado melhor na escolha. É óbvio que protestar agora e diante dos estádios também é válido, apóio 100%, mas o protesto feito hoje surtirá efeito no futuro, em futuras obras superfaturadas, ou será que alguém acredita na demolição de um estádio de mais de 1 bilhão? Depois que o cachorro já fez cocô no meio da sua sala, só te resta limpar e ensiná-lo a fazer da forma correta na próxima vez.

O fato de querer uma Copa no Brasil e ir ao estádio não me torna culpado ou favorável ao uso do dinheiro público. Ao chegar no estádio de Brasília, no último sábado, vi manifestantes ofendendo torcedores que ingressavam no estádio. Tenho visto gente que foi ao jogo e agora está com vergonha por ser tachado como alguém favorável à corrupção. Ora bolas! O problema não é a Copa ou os que vão ao estádio, o problema são os corruptos. Acredito que podemos e devemos ter estádios modernos, assim como devemos e podemos ter hospitais de primeiro mundo, uma coisa não invalida a outra. Pelo menos não em países com políticos competentes. 




O estádio e a acessibilidade
Como havia afirmado em texto anterior, para comprar e retirar os ingressos eu não tive dificuldades, foi até melhor do que eu esperava. Por ser deficiente, quando retirei meu ingresso também recebi uma credencial para o carro, desta maneira pude estacionar mais próximo ao estádio, o que facilitou muito a minha locomoção. Mesmo com movimentação intensa, chegamos facilmente a vaga que nos foi designada. Do estacionamento até o portão de entrada ainda tivemos que andar um pouco, o que não seria um problema não fosse a falta de rampas e a grama/barro ainda presentes no entorno do estádio. Um cadeirante que estivesse sem acompanhante dificilmente chegaria sem alguém para ajudá-lo. Para os deficientes que não tinham a credencial do estacionamento e tiveram que estacionar longe, carros (tipo aqueles de golf) eram disponibilizados para levá-los até a entrada.

"Filas" e o caos instalado para comprar uma Coca e um Salgadinho por R$12.
Quanto mais nos aproximávamos do estádio, mais as coisas melhoravam. Ao me ver, fiscais se aproximavam espontaneamente e direcionavam ao melhor caminho. Não enfrentei fila alguma, embora mais uma vez eu tenha percebido algumas "caras tortas" ao me verem passando na frente. Para chegar até os detectores de metais e na parte da revista, havia uma pequena escada e ao lado uma rampa, a qual seria muito útil se não estivesse completamente bloqueada por sacos de lixo, latas e garrafas atiradas no chão. Não sou um homem-bomba, mas se fosse poderia explodir tudo por ali. Como a cadeira não passa entre os detectores de metal, passo pelo lado e geralmente me revistam depois, o que não ocorreu. 

Assim como me impressionei ao entrar na Arena do Grêmio (Construída sem o uso de dinheiro público, diga-se de passagem), tive o mesmo espanto ao entrar no estádio de Brasília. É realmente lindo, por dentro e por fora. Acessamos o portão tranquilamente e logo apareceu mais um fiscal nos direcionando aos lugares marcados. Nas cadeiras e no campo tudo parece pronto, mas na parte dos bares e banheiros ainda faltam ajustes, mas nada de grave. Porém, as lanchonetes merecem um destaque especial. Tentamos por duas vezes comprar algo pra comer, as filas eram enormes e ao chegar no balcão não havia mais o que comprar. Péssimo planejamento para um evento que há bastante tempo está com todos os ingressos vendidos. Outra coisa que me intriga é saber o por que de os brasileiros não conseguirem respeitar uma simples fila. Os furões estavam por toda parte: nos banheiros, nas lanchonetes, eles entravam na sua frente sem o menor pudor e se você ousasse reclamar ainda corria o risco de ser ofendido.

Barra colocada em frente ao espaço destinado aos deficientes físicos.
O espaço para cadeirantes é ótimo, mas o vidro colocado na frente pode atrapalhar algumas pessoas. Por eu ser alto, ele pouco me atrapalhou, mas caso uma criança ou alguém mais baixo fique ali, poderá ter sua visão do campo prejudicada. Outro fato que me chamou atenção foi o presença, durante todo o jogo, de torcedores em pé atrás da minha cadeira. Se compraram ingresso tinham lugares marcados para sentarem, mesmo assim preferiram ficar ali e a todo momento esbarrando na minha cadeira, berrando no meu ouvido e derramando cerveja na minha cabeça. Quando fui ao jogo do Grêmio ocorreu o mesmo, mas imediatamente vinha um fiscal e retirava a pessoa. Em Brasília os fiscais pareciam não ter recebido tal orientação, pois nada faziam.

Resumindo, encontrei mais pontos positivos do que negativos. O fato do estádio ser muito bem localizado ajuda bastante. Quando o jogo acabou, saímos tranquilamente e mesmo com muita gente junta o trânsito foi rápido, em menos de 30 minutos estávamos em casa.

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