domingo, 8 de julho de 2012

Constrangimento desnecessário

Quando você está em uma cadeira de rodas, algumas coisas e situações comuns do dia a dia mudam de tal forma que chegam a ser engraçadas. As pessoas, muitas vezes sem nem perceber e, quando não ignoram o cadeirante, te tratam infantilmente, como se estivessem falando com um neném, uma criança ou até um cachorro. Fazendo aquela voz de "guti, guti". Se você nunca se deu conta, mas agora percebeu que age assim: mude sua atitude, ainda está em tempo.

Acredito que tal atenção diferenciada se deve boa parte ao termo "especial", usado para definir um deficiente. Termo o qual odeio. Especial? Fala sério, especial eu sou para os meus pais, e olhe lá. Todo deficiente sonha com um tratamento igual, eu pelo menos jamais quero que me tratem diferente por estar um uma cadeira de rodas. Quero sim ter acesso aos locais e as coisas que desejo fazer, e talvez isso exija acessibilidade, mas não um tratamento diferente.

Várias vezes me deparei com situações estranhas. Você chega em um restaurante por exemplo e a reação do garçom é sempre extrema: ou ele te ignora completamente na mesa, se dirigindo apenas aos outros que estão com você, ou ele é extremamente atencioso, falando apenas com você e te enchendo de "carinhos" e cuidados. Ué, mas isso não é bom? Em determinados momentos sim, principalmente se você estiver paquerando o garçom, o que geralmente não é o meu caso. O que quero ressaltar é que o ideal seria um tratamento igual, não é necessário mudar de atitude apenas por estar na presença de um deficiente.

Outra curiosidade é perceber como as pessoas ficam constrangidas ao, em uma conversa com um cadeirante, usarem o verbo "andar". Acredito ocorrer o mesmo com o verbo "ver" quando falam com um cego. Ora, só porque tal pessoa não anda ou não , não quer dizer que tais palavras devam ser evitadas ou retiradas do vocabulário dela. Sabe aquela pergunta clássica: "E aí, como andam as coisas?", parece simples, mas quando ela é dita a um cadeirante, gera as mais estranhas situações para quem a fala. Sem comentar que deixa a bola quicando para uma resposta bem humorada do cadeirante. "Como andam? Na verdade ainda não andam".

Outras milhares de situações existem, mas o principal é saber que, geralmente, o deficiente lida perfeitamente bem com a deficiência e por isso mesmo não deve haver motivo para constrangimento quando se está diante de um. Aja naturalmente e, na dúvida, pergunte o que deseja saber. Afinal, não existe pergunta mal feita, o que existe é resposta mal dada. 

"Pray for people you do not like or who have mistreated you. Resentment is the first blockade of spiritual power
"
Na vitrola:
 

2 comentários:

Among Spices and Recipes disse...

Tchuco, amei o texto. Olha, passei 7 semanas com o pé operado (e ele tinha que ficar bem elevado), por isso saía de cadeira de rodas quando ia a algum local e, mesmo sendo pouco tempo, percebi o tratamento diferenciado.. Sem contar o povo que me olhava achando que eu fosse uma alienígena.. Fogo!!! Espero que a igualdade que tanto queremos, aconteca rápido!

Belo texto! Um beijo bem 'guti guti' pra vc! (hihihi) :*

Leonardo de Paula disse...

Eu já tinha percebido que rola.. e parando pra refletir, acho inclusive que já agi dessa forma antes, não com você, mas com outros cadeirantes. Foda.