segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Eu não existo mais

Em 2010, na época em que estava sendo realizado o Censo pelo IBGE, lembro de ter feito algumas matérias, e comentado algo sobre a qualidade da pesquisa realizada pelo instituto, em relação aos deficientes no país. Hoje volto ao assunto após ler alguns artigos em sites especializados no tema. O motivo? Simplesmente pelo fato do IBGE ignorar completamente os deficientes. Sem sequer se dar o trabalho de ao menos incluir no questionário, uma pergunta para saber qual o número de pessoas com deficiência no Brasil. Resumindo, se você for deficiente e mora no Brasil, provavelmente você, assim como eu, não exista.

Em maio de 2010, antes de começarem a pesquisa, alguns sites que tratam do assunto já alertavam sobre o problema. Problema que já havia ocorrido 10 anos antes, no Censo realizado no ano 2000. Naquele ano, o IBGE fez o recenseamento dos deficientes por amostragem a cada 10 residências, e não pelo número real, o que não aponta o número exato de pessoas. Por isso, foi solicitado ao Ministério Público que, em 2010, a pesquisa fosse realizada de forma diferente. Coisa que não foi feita, pois mais uma vez fizeram a pesquisa por amostragem.

Qual a justificativa dada pelo instituto? Porque levaria muito tempo para recensear todas as pessoas com deficiência. Ora bolas, este tipo de pesquisa é feita de 10 em 10 anos, que se dane o tempo necessário. Além do que, na época em que foi procurado, o IBGE alegou que os questionários já estavam prontos e eles não teriam mais tempo de modificar e acrescentar um item especifico para os deficientes. Ou seja, para sabermos o número exato de deficientes no Brasil, teremos que aguardar mais 10 anos e torcer para que até lá, os responsáveis mudem de opinião e façam uma pesquisa que aponte a realidade.

O resultado da amostragem feita em 2010, ainda não foi divulgado. Mas se levarmos em conta o resultado do Censo anterior, veremos que ele aponta um número superior a 28 milhões de pessoas com deficiência no Brasil. O que representa cerca de 15% da população. Achou bastante? Então se prepare, pois de acordo com o CORDE (Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência) o número exato ultrapassa os 50 milhões de pessoas.

Eu acredito que o IBGE, não tem e continuará não tendo o menor interesse em saber o número real de deficientes por um simples motivo: Quanto maior o "problema", maior será a obrigação de investir dinheiro público e tempo na elaboração de políticas públicas voltadas para esta parcela da populacão. Ou seja, melhor deixar assim, dar o velho e bom jeitinho brasileiro e empurrar mais de 20 milhões de deficientes para baixo do tapete.

O que causa ainda mais indignação ao saber deste desleixo do IBGE, é que sem os dados reais, fica sem sentido a criação de leis, decretos, projetos e etc. Pelo simples fato dos interessados no assunto, nem sequer terem sua existência comprovada. Afinal para que fazer tantos projetos e campanhas de acessibilidade sem ter a opinião e participação dos que irão usufruir?

É verdade que as pessoas realmente só agem e tomam partido em determinadas situações quando vivenciam o problema, mas se continuarmos assim, omitindo a realidade, será cada vez mais lenta a inclusão social dos deficientes. Não queremos nenhum privilégio, apenas queremos o direito de existir. Será que é pedir muito?

"Não queremos ser integrados, mas sim incluídos. E só seremos incluídos, quando formos ouvidos, valorizados e os nossos direitos plenamente reconhecidos."
Vera Garcia

4 comentários:

Celso Grando disse...

Fábio, vc tem toda razão, uma das coisas que mais me chamou atenção nas visitas que eu fiz na campanha para Prefeito em 2004 era o grande número de deficientes que existem e que a sociedade não sabe. Em Guaporé temos uma lei que isenta o IPTU, para familias que tenham portador com defeciencias e elas não procuram este direito e o poder público não sabe que elas existem porque não cadastradas no censo. Continue lutando ..quem sabe um dia o Brasil acorde... Um abraço.

Luiz Fernando disse...

Absurdo saber disso. Como tu disse, só se importa quem sente na pele. Abraços

Laura Berguer disse...

Nossa, fiquei impressionada com o número de cegos no Brasil e infelizmente o país não dá as mesmas condições de vida para todos.

Gi disse...

Para que tanta modernidade e tanta tecnologia? Para que melhorar? Para que levantar dados e analisar a fim de deixar o mundo muito melhor... Para que?
Só e somente para evoluir Brasil mal adminitrado e egoísta.