sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Da boca pra fora

O tema do preconceito é recorrente, volta e meia surge um caso novo. Alguns mais graves, outros mais explícitos, porém o que tem me incomodado são justamente os casos mais velados, o preconceito silencioso e pra mim, o mais perigoso. Todo preconceito é ruim, mas se tiver, que ele seja assumido. Pelo menos assim temos como enfrentá-lo e escolher se queremos ou não conviver com ele.

O grande problema é que as pessoas pregam um discurso, vão à igreja todo fim de semana, se espantam quando assistem um caso de preconceito na TV, mas na primeira oportunidade, numa conversa mais reservada, agem de maneira contrária ao discurso formal. Falar mal da opção sexual do fulano, do haitiano que recém chegou na cidade ou do deficiente que só reclama da falta de acesso é quase um hobby. Acabam falando tão naturalmente que as vezes nem se dão conta do absurdo por traz de tudo isso.

Hoje moro numa cidade pequena, onde qualquer coisa fora do "normal" facilmente se destaca. Eu, por estar numa cadeira de rodas, faço parte dos anormais. Não me senti assim uma ou duas vezes, acontece sempre. Ao chegar num restaurante ou numa loja qualquer, viro atração. Me sinto quase num filme do exorcista, basta chegar pra começar a ver os pescoços virando quase em 360º para ver o cadeirante. Fazem isso sem a menor discrição. Tudo bem, que olhem, não há problema nisso, mas por favor sejam discretos e, após olhar uma vez, tentem se acostumar e não continuar encarando repetidas vezes.

A sensação de ser observado a cada movimento (e olha que eu faço poucos) é péssima. Se você tem dúvidas, curiosidades, fale comigo. Apesar de me sentir como um extraterrestre, eu não mordo e ficar perto de um cadeirante não te transformará em um. Repito, entendo a curiosidade, mas ninguém gosta de ser apontado na rua, seja por estar numa cadeira de rodas, por gostar de alguém do mesmo sexo ou por ter uma cor de pele diferente da sua.

As pessoas são diferentes, umas por opção própria, outras não e é justamente aí que está a graça da vida. Portanto, aprender a respeitar é essencial. Apenas o discurso contra o preconceito já não basta mais, é preciso agir, ter atitude e dar exemplos. Não espere até um filho seu ser homossexual para compreender os gays. Não espere até um acidente deixar um familiar numa cadeira de rodas para aceitar os deficientes ou ao menos conseguir conviver com um. Comece agora, afinal ninguém sabe o que o futuro nos reserva. 

Ser tolerante e respeitar as diferenças não é tão difícil assim, basta um pequeno esforço para fazer grandes mudanças. Eu garanto.

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